19 novembro 2008

O Banco de Portugal e as explicações para o desemprego de longa duração

O Banco de Portugal, que nos últimos tempos tem sido muito criticado pela sua actuação (ou falta dela) no caso do Banco Português de Negócios, veio ontem a público com uma explicação sobre o crescimento do desemprego de longa duração em Portugal. Explicou sobretudo porque é que o desemprego de longa duração é cada vez mais longo.
No essencial, o que diz o Banco de Portugal? Diz que o período médio de desemprego é cada vez mais prolongado por causa da generosidade do subsídio de desemprego. Conclui-se, portanto, que se diminuirmos o tempo de concessão do subsídio de protecção no desemprego, diminuirá automaticamente o tempo médio de desemprego. Em última análise, o que esta explicação diz, mais profundamente, é que as pessoas não trabalham porque não querem e sobretudo porque não precisam, uma vez que o rendimento que poderiam obter pelo trabalho conseguem-no através da prestação do subsídio de desemprego. Dito de outra maneira, a explicação apresentada é a versão mais simplista, linear e redutora das teses que defendem que as medidas de protecção social são um convite à preguiça, à malandrice, enfim, à desordem social. No caso da protecção no desemprego, o subsídio é entendido como uma medida de desincentivo ao trabalho.´
É preciso dizer que este tipo de leituras enraíza numa perspectiva ultra-liberal que teima em culpabilizar as pessoas pelas difíceis situações em que se encontram, sejam elas as de desemprego, pobreza ou outras. Devo dizer também que fico surpreendido que o Banco de Portugal comungue dessa perspectiva. Talvez não tenha razões para tal, já que, afinal, nada quer dizer o facto de o responsável máximo do Banco de Portugal ser o Dr. Victor Constâncio, reputado economista e antigo líder do Partido Socialista. Mesmo assim, há coisas que nos surpreendem, não há ?

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