27 outubro 2009

UM GOVERNO DE ZIGZAGES OU A POLITICA NO CENTRO DO DEBATE PÚBLICO

O que é que o cidadão comum espera do novo governo que ontem tomou posse? Naturalmente que resolva os seus problemas, quer sejam de desemprego, de situações de pobreza, de falta de expectativas de futuro( que é já ámanha...) enfim, que facilite a vida ainda que esta tenha significados diferentes e até opostos para os variados grupos de interesse que cada vez com mais capacidade de mediatização se fazem sentir na sociedade Portuguesa. Será concerteza legítimo exigir deste governo tudo isso e muito mais, até porque a natureza da politica é procurar e, antes de tudo, prometer uma vida boa. Por mim o que espero é que um governo minoritário como o que agora tomou posse permita colocar no centro da nossa vida pública o debate politico, quero dizer o debate de ideias e de propostas clarificadoras das possíveis alternativas e variados caminhos que é possível trilhar para alcançar a tal boa vida ou a vida boa. O que, em meu entender, será menos recomendável no momento histórico-social que vivemos é que um governo minoritário só pelo facto de o ser, adopte um estilo de acção titubeante e também errante que de nada serve os desígnios actuais da sociedade Portuguesa, a não ser a manutençao, ainda que a prazo... do poder.

21 outubro 2009

AS CONTROVÉRSIAS DE SARAMAGO

Confesso que a controvérsia que o "Caim" está a gerar na sociedade Portuguesa não é, para mim, inesperada. De resto, penso que José Saramago quando terminou o livro deve ter pensado nisso . Julgo, aliás, que só aceitou a publicação correndo o risco , ou melhor, aceitando o desafio de ter de enfrentar a ira de todos os que não admitem que toda a verdade, por mais convincente que seja, deve ser questionada. Mesmo assim, não deixa da ser matéria para reflexão o facto de termos assistido nos últimos dias a reacções não de ira mas de autêntica raiva, sustentada no pânico, de alguns responsáveis da igreja católica e de vários representantes de enraizados credos políticos. Só assim se compreende que José Saramago tenha sido " convocado" para dar uma entrevista hoje na RTP. Quem estivesse à espera que o escritor viesse pedir uma interpretação mais soft do seu livro ou das suas declarações publicas produzidas nos últimos dias ficou certamente desapontado. O nosso prémio Novél nesta entrevista foi coerente com o que pensa e escreve, dando assim um exemplo de grande verticalidade e de honradez, coisa que não é comum nas "grandes figuras públicas" sejam elas da política, da ciência ou mesmo da literatura, que em frente das luzes dizem o contrário do que tinham dito e repetido em texto.

20 outubro 2009

JOSÉ SARAMAGO E PORTUGAL, DE HOJE

José Saramago apresentou há dias em Penafiel o seu último livro " Caim". Não tive ainda oportunidade de ler esse livro, mas pelas reacções que até agora ouvi parece que confirma a grande subtileza de Saramago para , com algum sarcasmo e sobeja ironia, lançar um olhar sobre as grandes construções do mundo, o que não deixa de ser também um olhar crítico sobre a actualidade. Penso que quando Saramago traz a público as suas reflexões deveríamos, pelo menos, ter a clarividência da humildade, dar o beneficio da dúvida e tentar pela nossa própria reflexão perceber o alcance filosófico-histórico das suas ideias. Mas, parece que nada disto acontece no Portugal de hoje, a julgar pelas críticas que foram feitas ao novo livro, mas também ao escritor, que terá dito que a Bíblia é um manual de maus costumes. Quanto a esta afirmação não posso avaliar o seu real sentido porque não conheço o contexto, ou seja, a fundamentação que lhe esteve na origem. O que já posso avaliar, porque conheço a dose de mediocridade intectual que costuma presidir a declarações tão perentórias e xenófobas do pensamento livre, é a afirmação de um Deputado Portugûes no Parlamento Europeu que terá reclamado que José Saramago mudasse de Nacionalidade.O comentário que essa afirmação merece é que mal está um país e o mundo quando temos representantes do poder politico que fazem afirmações desta natureza que mais não revelam intolerância e, porque não dizê-lo, profunda ignorância cultivada na arrogância.