23 novembro 2008

Funções públicas, negócios privados

Na análise de uma qualquer realidade, ainda que essa seja a de Portugal, não se deve exagerar, é certo. Mas perante o que se tem passado nos últimos tempos no nosso país até apetece exagerar, tal é o aspecto exagerado da vida politico-social que aqui se faz sentir.
Vêm estas considerações a propósito dos recentes acontecimentos em volta de um banco privado, o Banco Português de Negócios (que poderá ficar conhecido pelo Banco dos presos de negócios) que foi recentemente nacionalizado. Como se não bastasse esse acontecimento - a nacionalização da coisa privada numa época em que o privado invadiu a coisa pública - o que agora se começa a perceber é que esse banco e todos os negócios que giraram em seu redor era uma espécie de refúgio dos "grandes homens da política " que nunca se cansaram de lembrar ao país o muito que fizeram por ele. Neste caso, e em muitos outros certamente, a participação na vida politico-partidária e, por via disso, a participação em altos cargos da nossa vida colectiva parece ter sido motivada por objectivos meramente instrumentais para conseguir uma vida melhor. Foi isso o que se percebeu da entrevista que o Dr. Dias Loureiro concedeu à RTP no sábado passado.
De facto, este antigo ministro e actual Conselheiro de Estado por indicação do Senhor Presidente da República (que conselhos dará ele?) afirmou que estava obviamente inocente em todos os negócios que o banco a que presidiu até há dois anos atrás terá feito à margem da lei. Disse também que quando saiu da vida política (eu direi pública) não tinha nada, mas que agora vive bem e a sua família também. Cabe portanto perguntar se foi a sua participação na vida política que lhe proporcionou esse aumento de qualidade de vida. E, se assim foi, como é que o conseguiu?
Esta última questão não interroga, é claro, apenas o Dr. Dias Loureiro. Mais genericamente coloca a questão de saber que tipo de motivações leva actualmente as pessoas a participarem na vida política.

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