Como cidadão interessado e atento à vida social e politica do país ouvi a Mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Ouvi mas sem grande expectativa, devo dizer, pois já percebi que as ditas comunicações ao país nestas datas festivas (como noutras, de resto) dos responsáveis políticos servem além do mais para corrigir estratégias que só eles sabem e entendem e também para acertar contas entre eles, contas que o cidadão comum desconhece, mas que talvez pague. Se ainda tinha alguma irritação na minha consciência por assim pensar fiquei mais tranquilo, já que não quero pertencer ao grupo dos que passam a vida a mal dizer dos políticos e da politica ainda que a maioria desses viva da má politica que por aqui se vai fazendo. Explico-me: 2009 será um ano que vai trazer muitas dificuldades a muitas pessoas que, por certo, ficarão fortemente condicionadas na manutenção do seu estilo de vida e de consumo, coisa que é tanto mais grave, quer do ponto de vista pessoal, quer social, quanto é verdade que a promessa que há muitas décadas lhes fizeram foi de Ascenção crescente. É caso para dizer que nos prometeram o paraíso e agora anunciam-nos o inferno. Ou, dito de outra forma, e por analogia ao que disse
Hannah Arendt sobre a sociedade do trabalho, ou seja, que estamos numa sociedade de trabalhadores sem trabalho, poder-se-ia agora dizer que estamos numa sociedade de consumidores sem consumo ou, mais geral e profundamente, numa sociedade capitalista sem capitalismo. Nestas condições é possível esperar o aumento da conflitualidade social e até da convulsão social que pode ser incontrolável. É possível também que o poder político se sinta atraído, como tantas vezes acontece, por medidas mais ou menos fáceis que só servem para enganar o otário, em vez de tomar decisões que alterem as regras do jogo que nos têm governado nas últimas décadas e mesmo séculos.
Lembro, entretanto, que estas considerações vêm a propósito do discurso de ano novo do senhor Presidente da República. O que disse, então, o Senhor Presidente?
Disse que os Portugueses devem esperar dias difíceis, mas que era solidário com eles. Não tenho a certeza se disse que também era solidário com as dificuldades...
Disse também que os Portugueses devem ter esperança e que devem pensar que são os melhores e que, por via disso, vão ser capazes de ultrapassar as dificuldades.
Disse ainda e sobretudo que sobre as dificuldades que aí vinham já tinha chamado a atenção há muito tempo. Enfim, para que não digam que ele não disse, disse também que esta crise talvez não se resolva no decorrer do ano de 2009, mas que pode durar mais algum tempo e que é sobretudo com os jovens, com os velhos, com as mães, com os pais, com os agricultores e com outros grupos e espécies existentes em Portugal que está severamente preocupado. O que não disse foi que já na mensagem de natal o senhor Primeiro Ministro (sim, porque ele é o primeiro e só depois vem o segundo...) disse mais ou menos o mesmo, descontado o estilo e as palavras que só o senhor Presidente da República terá entendido.
Enfim, o que o senhor Presidente da República não disse nem sequer sugeriu foi uma única ideia para ultrapassar os problemas com que os Portugueses se confrontam já hoje e que se poderão agravar no próximo ano e nos seguintes. E não o fez porque não quis, não sabe ou, então, não lhe dá jeito. Enfim, aos Portugueses resta ter uma participação activa na vida social e política por forma a que as regras do jogo sejam alteradas, até porque 2009 também a esse propósito vai ser cheio de oportunidades.