27 outubro 2009

UM GOVERNO DE ZIGZAGES OU A POLITICA NO CENTRO DO DEBATE PÚBLICO

O que é que o cidadão comum espera do novo governo que ontem tomou posse? Naturalmente que resolva os seus problemas, quer sejam de desemprego, de situações de pobreza, de falta de expectativas de futuro( que é já ámanha...) enfim, que facilite a vida ainda que esta tenha significados diferentes e até opostos para os variados grupos de interesse que cada vez com mais capacidade de mediatização se fazem sentir na sociedade Portuguesa. Será concerteza legítimo exigir deste governo tudo isso e muito mais, até porque a natureza da politica é procurar e, antes de tudo, prometer uma vida boa. Por mim o que espero é que um governo minoritário como o que agora tomou posse permita colocar no centro da nossa vida pública o debate politico, quero dizer o debate de ideias e de propostas clarificadoras das possíveis alternativas e variados caminhos que é possível trilhar para alcançar a tal boa vida ou a vida boa. O que, em meu entender, será menos recomendável no momento histórico-social que vivemos é que um governo minoritário só pelo facto de o ser, adopte um estilo de acção titubeante e também errante que de nada serve os desígnios actuais da sociedade Portuguesa, a não ser a manutençao, ainda que a prazo... do poder.

21 outubro 2009

AS CONTROVÉRSIAS DE SARAMAGO

Confesso que a controvérsia que o "Caim" está a gerar na sociedade Portuguesa não é, para mim, inesperada. De resto, penso que José Saramago quando terminou o livro deve ter pensado nisso . Julgo, aliás, que só aceitou a publicação correndo o risco , ou melhor, aceitando o desafio de ter de enfrentar a ira de todos os que não admitem que toda a verdade, por mais convincente que seja, deve ser questionada. Mesmo assim, não deixa da ser matéria para reflexão o facto de termos assistido nos últimos dias a reacções não de ira mas de autêntica raiva, sustentada no pânico, de alguns responsáveis da igreja católica e de vários representantes de enraizados credos políticos. Só assim se compreende que José Saramago tenha sido " convocado" para dar uma entrevista hoje na RTP. Quem estivesse à espera que o escritor viesse pedir uma interpretação mais soft do seu livro ou das suas declarações publicas produzidas nos últimos dias ficou certamente desapontado. O nosso prémio Novél nesta entrevista foi coerente com o que pensa e escreve, dando assim um exemplo de grande verticalidade e de honradez, coisa que não é comum nas "grandes figuras públicas" sejam elas da política, da ciência ou mesmo da literatura, que em frente das luzes dizem o contrário do que tinham dito e repetido em texto.

20 outubro 2009

JOSÉ SARAMAGO E PORTUGAL, DE HOJE

José Saramago apresentou há dias em Penafiel o seu último livro " Caim". Não tive ainda oportunidade de ler esse livro, mas pelas reacções que até agora ouvi parece que confirma a grande subtileza de Saramago para , com algum sarcasmo e sobeja ironia, lançar um olhar sobre as grandes construções do mundo, o que não deixa de ser também um olhar crítico sobre a actualidade. Penso que quando Saramago traz a público as suas reflexões deveríamos, pelo menos, ter a clarividência da humildade, dar o beneficio da dúvida e tentar pela nossa própria reflexão perceber o alcance filosófico-histórico das suas ideias. Mas, parece que nada disto acontece no Portugal de hoje, a julgar pelas críticas que foram feitas ao novo livro, mas também ao escritor, que terá dito que a Bíblia é um manual de maus costumes. Quanto a esta afirmação não posso avaliar o seu real sentido porque não conheço o contexto, ou seja, a fundamentação que lhe esteve na origem. O que já posso avaliar, porque conheço a dose de mediocridade intectual que costuma presidir a declarações tão perentórias e xenófobas do pensamento livre, é a afirmação de um Deputado Portugûes no Parlamento Europeu que terá reclamado que José Saramago mudasse de Nacionalidade.O comentário que essa afirmação merece é que mal está um país e o mundo quando temos representantes do poder politico que fazem afirmações desta natureza que mais não revelam intolerância e, porque não dizê-lo, profunda ignorância cultivada na arrogância.

22 setembro 2009

Perguntas Em Contraluz-X

Digam lá se a campanha para as próximas eleições legislativas em Portugal não revela alguma coisa que, no mínimo, é curiosa ? Não, não me refiro apenas aos episódios mais ou menos caricatos que uma campanha eleitoral sempre, aqui ou qualquer outra parte, trazem para o divertimento público. Talvez isso até não seja mau de todo...O que já é menos bom é o facto desta campanha eleitoral trazer ao debate público factos que só poderão contribuir para o descrédito da politica e também, e em primeiro lugar, dos que a representam, os políticos. Refiro-me naturalmente ao facto desta campanha estar centrada, sobretudo nos últimos dias, nas questões ou, para ser mais preciso, nas questionculas institucionais que tem como epicentro o terramoto das escutas que,como estarão de acordo, certamente, ensurdeceram os eleitores para escutarem as propostas sobre o rumo da economia, da politica social, da politica cultural, etc. Que recado escotaram os políticos? Não sei, como é evidente, porque não sou vidente. Suspeito, porque penso, que também em Portugal ganham força as estratégias globais para desacreditar a politica, até porque depois só resta a economia.

15 setembro 2009

Perguntas EM CONTRALUZ- IX

Quem ganhou o debate Manuela Ferreira Leite/José Sócrates? Talvez nenhum deles, a julgar pelos comentários feitos no dia seguinte e nos seguintes pela comunicação social... E já agora outra pergunta: não foi a comunicação social quem perdeu neste debate, até porque neste debate não se tratava de saber quem perdeu ou quem ganhou , mas antes qual dos dois lideres tinha as melhores propostas para o Pais, ou seja a melhor proposta para tornar público o consenso sobre interesses privados?

09 setembro 2009

Os debates para as eleições legislativas/2009

Tenho seguido com a merecida atenção os debates que os vários canais de televisão em Portugal têm promovido a propósito das eleições legislativas que irão ocorrer no nosso país no próximo dia 27 de Setembro. Dois grandes temas têm estado bem presentes em todos os debates até agora realizados : as questôes económicas dominam , as relações de encontro e desencontro entre os partidos que participam em cada um desses debates estão presentes, outros temas estão completa e lamentavelmente ausentes. Desde logo a posição de Portugal na Europa, ou mais precisamente a clarificação de cada um dos partidos relativamente às grandes decisôes que a União Europeia terá que tomar nos próximos tempos, vide, p. ex. as questões do alargamento, as relações com os E. U. A. etc. Mas também e, talvez, mais importante ainda, o tema da regionalização ou a politica cultural, ou ainda, as relações de Portugal com o mundo para além das fronteiras do espaço Europeu. Estes são apenas alguns dos temas que estão ausentes do debate que se tem centrado quase exclusivamente, na economia, o que não deixará, por certo, de ser um sinal dos tempos. Não deixa de causar, no entanto, alguma estranheza que este universo da discussão nesta fase da pré- campanha eleitoral seja aceite não apenas pelos partidos da direita em Portugal, mas também pelos partidos de esquerda. Distracção ou apoio tácito e envergonhado?

31 maio 2009

Eleições para o parlamento europeu- o caso de Portugal

Independentemente da opinião que se tenha sobre o rumo da União Europeia, designadamente quanto à ausência de uma politica externa comum, para não falar de outra dimensão de igual ou de maior importância como é a incapacidade para definir uma politica social europeia que obrigue todos os Estados membros, a verdade é que Portugal aderiu a esta estrutura supranacional em 1986.Também é verdade que no próximo dia 7 de Junho se irão realizar as eleições para o Parlamento Europeu.Sabemos que estas eleições não estão a despertar grande interesse dos eleitores Europeus. As previsões apontam para uma percentagem elevada de abstenção, o que não será de modo nenhum indiferente aos erros sucessivos e às omissões repetidas e, digo eu, deliberadas dos senhores da Europa que, contrariando a vontade dos seus fundadores, afastaram os cidadãos europeus da construção de um espaço politico e social que sempre foi o deles .Mesmo assim é deveras lamentável constatar que em Portugal a campanha eleitoral para as próximas eleições do dia 7 de Junho não tenha tratado assuntos da Europa. Mais parece que estamos em campanha eleitoral para o Parlamento nacional. É pena mas não estranho, tendo em conta que a politica nacional é histórica e estruturalmente provinciana.Como provinciano é(obviamente porque é do seu interesse pessoal e também do conjunto de interesses que ele mobiliza e protege) o que acabo de ouvir no canal público de televisão do Senhor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa( o senhor Professor como o trata a entrevistadora...) quando afirmou que no próximo Domingo quem estiver de acordo com a politica de Sócrates vota sim, quem não estiver de acordo vota não.É para afirmações como esta que foge á verdade e confunde em vez de esclarecer que a televisão pública paga a este comentador ? Enfim, simplesmente lamentável o espectáculo a que estamos a assistir...

09 abril 2009

Centro de altas pressões ou pressões do centro

Nos últimos dias o país tem estado sobre um centro de altas pressões , pelo menos no domínio do debate politico.Muito se tem discutido, com efeito, se houve ou não pressões de variada intensidade sobre o sistema judicial relativamente ao caso Freeport. Uns afirmam que sim , outros afiançam que não, outros dizem que não sabem e que, de resto, isso não é importante. Não deixa de ser curioso constatar que este debate acerca das pressões permitiu o reaparecimento público do ex-Procurador Geral da Republica, Dr. Souto Moura, que entretanto aproveitou para voltar a falar no processo CASA PIA, do qual, deixou entender( este país continua a falar nas entrelinhas...) que saiu derrotado. Disse também que o caso Freeport é muito delicado porque envolve políticos e que( não obstante NINGUÉM ESTAR A CIMA DA LEI, disse ele...) este caso deveria merecer cautelas especiais, até porque está ou poderá estar envolvido um Primeiro Ministro, mas que ,apesar disso, deveria ser investigado até ao fim, como se fosse necessário vir um ex-Procurador dizer ao actual, Dr. Pinto Monteiro( o qual visivelmente demonstra não saber o que fazer com este caso...) que a investigação deve continuar.Acrescente-se que este debate politico nacional aumentou depois do desentendimento tornado público entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata acerca da “personalidade “ a indicar ao Parlamento como candidato a Provedor de Justiça , uma vez que o actual, Dr. Nascimento Rodrigues, veio queixar-se publicamente que já não aguentava mais esperar por ser substituído,já que tinha ultrapassado o prazo de validade. Face a todos estes rocambolescos episódios qualquer cidadão, eu incluído, não pode deixar de colocar muitas e sérias dúvidas sobre o funcionamento do SISTEMA DE JUSTIÇA EM PORTUGAL, já que ele parece funcionar cada vez mais em circuito fechado sobre pressão dos ventos do centro, quero dizer, do bloco central de interesses no domínio da coisa pública há muitos anos instalado no nosso país

06 abril 2009

Perguntas Em Contraluz-VIII

Como é sobejamente conhecido, nos últimos dias têm sido muitas as noticias que revelam, sem dúvida, as tremendas confusões e as lamentáveis contradições que marcam a vida das nossas instituições de justiça. Ao assistir a tal espectáculo, cujo actor mor é, por certo, o senhor Procurador Geral da Republica, não posso deixar de colocar a seguinte questão: será isto o resultado de um acordo mal sucedido firmado há anos atrás entre os dois maiores partidos. O que correu mal no celebre e tão festejado pacto para a justiça?

02 abril 2009

As eleições autárquicas e o orçamento participativo

Como abundantemente tem sido referido, é cada vez menor o número de pessoas interessadas na participação da vida colectiva e muito menos ainda na discussão das opções politicas . Políticos, comentadores e também académicos não se cansam de proferir inflamados discursos, noticias em tom dramático e doutas conferências sobre as consequências de tal atitude dos cidadaõs e dos eleitores, até porque o comportamento destes últimos colocam em dúvida a legitimidade de quem exerce tanto poder com cada vez menos votos. Deve dizer-se, entretanto, que este deficit de participação é particularmente comentado e discutido quando se fala de eleições autárquicas, talvez porque( mas não só, digo eu), são as que registam tradicionalmente maior taxa de abstenção.Independentemente das razoes que normalmente são apresentadas para o crescente alheamento dos cidadaõs do debate e das decisões que lhe dizem respeito, a verdade é que é justamente ao nível da administração local onde existem melhores condições para implementar formas de participação das pessoas. Refiro-me, concretamente, e entre muitas outras estratégias possíveis, á implementação da prática do orçamento participativo. Trata-se, com efeito, de um instrumento que, se outras vantagens não tiver, pelo menos permite aos munícipes dar a sua opinião sobre as prioridades de investimento em determinado território e,assim, poderem participar, ainda que minimamente, nas opções que configuram a vida local. É, pois, uma forma elementar de participação, mas que em muito poderá contribuir para melhorar a qualidade da nossa democracia. Sendo ainda uma prática residual no nosso país, pois é apenas aplicada( com modelos mais ou menos democráticos e de verdadeira participação) em sete municípios e três ou quatro freguesias, seria bom que os candidatos ás próximas eleições autárquicas colocassem o orçamento participativo nos seus programas eleitorais. Se não o fizerem e se não adoptarem esta prática participativa correm sérios riscos de ficarem a falar sozinhos.

20 março 2009

Perguntas Em Contraluz - VII

Hoje em dia, para onde quer que nos viremos encontramos devedores, sejam eles indivíduos, empresas ou Estados. Onde estão os credores? Quem são?

16 março 2009

Crise inesperada ou programada?

A complexidade de alta intensidade que caracteriza as sociedades contemporâneas coloca dificuldades acrescidas à previsibilidade da conduta humana. Cada vez é mais difícil (se é que alguma vez foi fácil e até mesmo possível) prever as consequências de determinada atitude ou de certo comportamento. É o que usualmente se designa de "efeito concertina" do comportamento dos humanos. A crise económica e social que estamos a viver pode, portanto, ter resultado dos efeitos inesperados e indesejados de uma fase de desenvolvimento do capitalismo marcada pela especulação sem limites e que nessa medida terá traído os próprios especuladores. Mas também pode ter resultado de efeitos inesperados e há vários anos constatados, mas que, entretanto, se tornaram desejados e que rapidamente foram aproveitados e deliberadamente ampliados para repor o equilíbrio do sistema que estava a sofrer demasiado ruído, sobretudo vindo das economias da Ásia e do Brasil, das designadas economias “emergentes”. Esta última hipótese ganha consistência à medida que a crise avança e as notícias parecem confirmar que, afinal, já muita gente sabia, menos o cidadão comum, que eram muitas as empresas, entre elas algumas multinacionais, que estavam a manter artificialmente a sua produção, que anunciavam dividendos que agora se confirma que não eram reais, etc. A ser confirmada esta hipótese é de esperar que a saída desta crise não traga, afinal , nada de novo. Quem estava à espera que o momento que estamos a viver pudesse servir para motivar uma reflexão sobre os caminhos trilhados pelo capitalismo nos últimos anos, desiluda-se. O que as ultimas notícias sobre os muitos fóruns nacionais e internacionais que se realizaram e outros tantos que estiveram anunciados mas que acabaram por ser cancelados deixam prever é que todo esse frenesim politico e diplomático mais não pretende do que deixar tudo como dantes: a matriz do sistema económico não será apenas mantida mas reforçada nos seus contornos mais agressivos; continuará a ser difundido o discurso dos benefícios inquestionáveis da competitividade, mesmo sem limites; enfim, com pequenos ajustamentos será, no essencial, mantida a lógica do comércio internacional. Mas afinal para que serve uma crise?

09 março 2009

As promessas de criação de emprego

Quem estiver atento às promessas que nos últimos meses foram feitas para a criação de novos postos de trabalho em Portugal não terá razões para estar pessimista quanto ao futuro e, muito menos, quanto à saída airosa da crise em que nos encontramos. De facto, nos últimos meses, quer o governo quer as autarquias não param de anunciar acordos e parcerias de investimento cujo propósito fundamental é a criação de postos de trabalho. Ontem foi a Câmara Municipal de Portimão que anunciou que vai ser criada no concelho uma fábrica que irá gerar 350 postos de trabalho directos, segundo as primeiras notícias, cerca de 250, segundo as notícias mais recentes. Mais cem menos cem, pouco importa para o caso. O importante é que vão ser criados novos postos de trabalho em Portugal, coisa rara, pelos vistos, tal é a relevância que esse anúncio obteve na comunicação social.
Ainda que se trate de anúncios a longo prazo, alguns a dez anos, sempre valerá a pena anotar as promessas agora feitas para verificar se serão ou não cumpridas. É claro que para isso é necessário ter paciência e sobretudo ter capacidade para encontrar surpresas, pois estou convencido que grande parte dessas promessas não só não serão cumpridas, mas fundamentalmente visam objectivos estranhos aos propósitos anunciados, desde estratégias eleitorais até formas de ultrapassar constrangimentos legais para favorecer clientelas locais. Com efeito, e como é sabido, a criação de emprego constitui muitas vezes um argumento para que algumas autarquias consigam não respeitar os PDM, procedendo a alterações pontuais, mas que acabam por ser cruciais para o modelo de organização e de desenvolvimento de um território. É, portanto, previsível que em momento de crise esse argumento suba de tom e também aumente o número dos que o aplaudem.

05 março 2009

País de brandos costumes ou país ridículo?

Noticia o Sol que uma mãe matou um filho obrigando-o a ingerir uma dose mortal de um medicamento. Aparentemente, o homicídio deveu-se ao facto de a mãe acreditar que a criança tinha sido a principal causa do seu abandono pelo seu companheiro.
O Tribunal da Relação de Lisboa, baseado numa avaliação psicológica que afirmava que no momento de matar o seu filho a mãe estava profundamente deprimida, acaba de confirmar a sentença de pena suspensa para a dita mãe (atente-se bem: a mulher não foi considerada inimputável, mas simplesmente deprimida) . O Tribunal da Relação recomendou também acompanhamento psicológico ou psiquiátrico regular, mas como deixou a mulher regressar ao Brasil, de onde é originária, abdicou da capacidade de supervisionar a efectivação de tal acompanhamento.
Os juízes do Tribunal da Relação parecem crer que, no momento em que matam alguém, as pessoas estão generalizadamente alegres, felizes, tranquilas e de bem com a vida.

02 março 2009

Política educativa?

Menos de uma semana depois de o gabinete de imprensa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ter noticiado que «Até Dezembro de 2008 tinham sido concedidos cerca de 5.500 empréstimos pelo sistema bancário ao abrigo do Sistema de Empréstimos a Estudantes do Ensino Superior com Garantia Mútua», José Sócrates vem anunciar bolsas de estudo para estudantes entre os 15 e os 18 anos e a obrigatoriedade da frequência do pré-escolar. Junte-se a isto o novo regime jurídico das instituições do ensino superior e a sua tendencial privatização, a guerra longa e desgastante entre o Ministério da Educação e os professores, o frenesim dos rankings, etc. e podemos perguntar: alguém encontra alguma coerência nisto tudo? Pode isto chamar-se de política educativa?

23 fevereiro 2009

Onde está a responsabilidade social das empresas

Nos últimos anos muito se tem ouvido falar de responsabilidade social das empresas. Este tema chegou mesmo a ser compilado em mais um livro da Comissão Europeia. Desta vez o livro é verde e é “PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS". Em Portugal o assunto foi rapidamente incorporado e passadas umas semanas da publicação do livro Europeu logo foi criada uma associação designada RSE PORTUGAL, que também rapidamente se tornou membro da CSR Europe. A RSE, constituída em 2005, tem tido grande projecção nacional, além do mais, porque já foi variadas vezes recebida por sua Excelência o Senhor Presidente da República, e talvez também, ou fundamentalmente, porque (de acordo com o que se diz nos seus anúncios promocionais) agrega “algumas personalidades de vulto ligadas ao meio empresarial e académico". Quanto a essas ditas personalidades prefiro não tecer, por ora, qualquer comentário, ainda que não resista a comentar que já se vai tornando moda em Portugal e noutras partes do mundo associar a Universidade ao mundo dos negócios...
Faço parte dos que, desde o surgimento do discurso sobre a responsabilidade social das empresas sempre lhe colocaram várias interrogações, a saber: a) a formação histórico-social actual tem como estrutura fundamental o Estado de Direito, pelo que basta que as empresas cumpram o que está legislado sobre a protecção do meio ambiente, as relações laborais, enfim, basta que sejam consideradas, tal como as outras instituições e cidadãos, sujeitos de direito; b) a figura da empresa surge no capitalismo com o propósito claro e expresso, nunca contrariado por algum economista ,de gerar lucro, sendo certo que neste sistema económico a regra é que para que alguns possam ganhar é necessário que muitos admitam perder e que percam de facto; c) o discurso sobre a responsabilidade social das empresas, altamente patrocinado pela elite política Europeia e também Portuguesa, surge numa época de crise severa do trabalho ou da falta dele, pelo que constitui mais uma fuga para a frente à procura do paraíso perdido, quero dizer, o pleno emprego, numa época em que, por razões várias e muito diversas (e nem sempre pelas mais convencionais ) são cada vez em maior número os inempregáveis.
Os acontecimentos ocorridos nos últimos meses vieram, em larga medida, confirmar a actualidade e a pertinência dessas interrogações. De facto, ainda a crise era apenas anunciada já muitas empresas anunciavam o despedimento de milhares de trabalhadores, enquanto outras proclamavam à opinião pública a intenção de despedir muitos outros milhares. Enfim, em época de crise, real ou virtual, as empresas deixam cair a sua responsabilidade, não social, mas cívica, de promoverem ou, pelo menos, manterem o emprego. Mas, é claro, alguma dessas empresas que, não querendo baixar os seus lucros, não teve qualquer dúvida em despedir centenas de trabalhadores, sempre poderá dizer e demonstrar à exaustão que nessa leva de despedimentos sempre se safou um deficiente ou um ex-toxicodependente porque para esses a empresa tem subsídios do Estado, ficando desta forma comprovada a sua responsabilidade social.

31 janeiro 2009

O divórcio e a pobreza

Confesso que foi com um arrepio na espinha que ouvi as declarações de ontem do Senhor Presidente da República. Convidado para o congresso da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade social (CNIS), que decorreu este fim de semana em Fátima, o Presidente de República declarou que existe uma relação de tipo causal entre divórcio e pobreza. Como um arrepio na espinha não se sente todos os dias..., tentei perceber por que tinha eu tido tal sensação. Para além de muitas outras razões que a minha razão há-de descobrir, encontro por agora duas: tendo andado muito calado relativamente ao caso de que todo o país fala, ou seja, o caso Freeport, o Presidente da Republica, mais uma vez, não se quis comprometer com tal mesquinhez até porque isso não lhe diz respeito, e muito menos é assunto que possa ser tratado num sítio daqueles, na cidade de Fátima; pressionado pela comunicação social e numa atitude de oportunismo politico, para não dizer de pura e singela vingança, o Presidente da República preferiu lembrar que vetou uma vez a lei do divórcio, mas que apesar disso essa lei foi aprovada. Daqui infere Sua Excelência que dessa decisão parlamentar resulta mais pobreza. Quem pense que a pobreza resulta das condições económicas e da miséria em que este capitalismo, que durante muitas décadas funcionou em roda livre, nos colocou, desengane-se. Até porque Sua excelência, o Professor Doutor Cavaco Silva, nunca se engana e raramente tem dúvidas (cito de memória o que ele disse há cerca de quinze anos quando era Primeiro Ministro); enfim, neste momento da nossa vida colectiva em que as nuvens se adensam e os aguaceiros já chegaram tive medo da tempestade, tal é a pobreza das ideias e de princípios ético-políticos e, sobretudo, a falta de clareza e de transparência que marca a vida política no nosso país.

27 janeiro 2009

Tempos de crise?

Deixamos aqui 2 links para o SlideShare. Achamos que valem a pena. Vejam as mordomias, as regalias de José Sá Fernandes na Câmara Municipal de Lisboa e as de Ana Fernandes na EDP (ANA Fernandes, para que se saiba, é a CEO da EDP Renováveis). Vejam e choquem-se.

25 janeiro 2009

A miséria da vida política

O recurso à expressão "miséria" tem sido recorrente nos escritos sobre o comportamento humano. Utilizo-a agora para caracterizar a vida política e particularmente a que se vai fazendo no nosso país. Na verdade, a actividade política em Portugal tem sido, sobretudo nos últimos anos, marcada pela intriga, pelo ajuste de contas entre os protagonistas de jogos e, quem sabe, de comportamentos menos claros e pouco transparentes mutuamente consentidos, que em nada dignificam os seus autores e, mais do que isso, levam o comum dos cidadãos a não acreditar nos políticos nem na política.Não sei se é justamente isso o que pretendem aqueles que fazem este tipo de política, o que seria, no mínimo, absurdo, já que seria a política feita em circuito fechado com um receptor exterior que cada vez fica mais surdo pelo excesso de ruído. Seria bom, digo eu, não apenas para a saúde e vitalidade da Democracia, que a política deixasse de estar centrada nos seus protagonistas, os políticos, e passasse a tratar dos temas que interessam à maioria dos cidadãos, o que nas circunstâncias actuais não é difícil prever quais sejam: crise económica; desemprego; pobreza, incluindo a de natureza económica; etc. Mas, afinal, reparo que a política palaciana, aquela que discute tudo menos os problemas e interesses do país e dos Portugueses, é uma velha tradição na nossa vida colectiva como tão bem o demonstram os trabalhos de vários escritores e pensadores políticos Portugueses, entre os quais Eça de Queiroz - que vale sempre a pena reler - pois infelizmente o que disse da vida política que por aqui se fazia no século XIX mantém-se actual no século XXI. Como se vê, pelo menos no reino da política e na governação que dela resulta e que todos vamos, mais ou menos conformados, aceitando, o mundo não pula e nem sequer avança.

14 janeiro 2009

Conselhos de casamento

Hoje pela manhã ouvi uma notícia num canal de televisão que me deixou deveras surpreendido. Dizia essa notícia que o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, ontem, no casino da Figueira da Foz, aconselhou as jovens Portuguesas a não casarem com muçulmanos. O argumento utilizado foi que os muçulmanos eram por natureza pessoas imprevisíveis e muito pouco flexíveis, que não eram pessoas de confiança. Eu, que até considero que o Cardeal Patriarca de Lisboa ao longo dos anos sempre demonstrou sensatez e razoabilidade nas posições que foi tomando acerca de vários assuntos muito delicados da sociedade Portuguesa e das sociedades contemporâneas, não posso deixar de classificar de aberrantes, injustas e inoportunas as declarações ontem proferidas por aquele mais alto responsável da igreja católica em Portugal. Na verdade, para além de revelarem um fundo que tem alimentado ao longo dos séculos atitudes e comportamentos racistas, na sua versão mais primária e condenável, essas declarações são também inoportunas e até irresponsáveis tendo em conta, além de tudo o mais, o conflito que ocorre actualmente na faixa de Gaza. A um responsável da igreja pede-se mais contenção e serenidade nas declarações públicas, mesmo quando são feitas num casino.

12 janeiro 2009

Perguntas Em Contraluz - VI

Que sentido faz, num país de gente remediada e pouco qualificada, de competências médias apenas sofríveis, a apologia do discurso da excelência? Por que razão os nossos governantes, empresários e universitários se maravilham com este discurso? Não perceberão que não se passa da mediania à excelência com passes de mágica? Não verão que o seu ar basbaque a pronunciar a palavra "excelência" é o espelho da sua generalizada mediocridade?

06 janeiro 2009

Recessão técnica

Como seria de esperar, Portugal entrou em recessão. Para já apenas técnica, depois se verá.
O que é interessante é comparar este facto - que o cidadão comum já antevia, ou melhor, sentia na pele - com os recentes discursos irrealistas - disfarçados de optimismo - de José Sócrates. Com efeito, ainda há poucos dias dizia o seguinte: «Em todos estes anos, sempre pude dizer que o ano que começa agora foi melhor que o ano anterior. Foi assim em 2005, foi assim em 2006 e tenho todos os motivos para vos dizer que o ano de 2008 será ainda melhor que o de 2007».
Continuo a ter esta dificuldade tremenda em compreender como é que pessoas que ocupam cargos de responsabilidade neste país dizem as coisas mais disparatadas e reveladoras da maior ignorância sem caírem, nem sequer estremecerem.
A responsabilidade é deles próprios, evidentemente, mas nossa também.


02 janeiro 2009

Crise, mas que crise?

A palavra que mais ouvimos pronunciar nos últimos meses na boca dos políticos e também nas páginas dos jornais e nos ecrãs das nossas televisões é a palavra crise. Tenha-se presente os discursos dos nossos mais altos representantes da Nação (Presidente da República e Primeiro Ministro) por altura do último Natal e do Primeiro ano novo...? É claro que esta palavra não foi agora inventada, tentando traduzir uma nova realidade antes desconhecida. Ela é antiga e mesmo milenária e expressa contextos e realidades idênticas. O que talvez seja novidade é o seu uso na actualidade e particularmente na situação actual. Na verdade, se etimologicamente ela pode ser traduzida e percebida como oportunidade de mudança de práticas que, num determinado contexto, se revelaram incapazes de mobilizar e satisfazer a vontade colectiva, a palavra crise parece estar hoje a ser utilizada como estratégia de promoção do medo (que, como é sabido, é a mais clássica das técnicas de dominação) quer pelos que repetidamente a pronunciam e proclamam, quer por aqueles que ansiosamente a escutam. Mesmo assim, muitos destes últimos às vezes soltam um desabafo que é deveras interessante e muito significativo: “crise só se for para eles, para os que têm muito dinheiro, eu por mim sempre vivi em crise e não morri. Logo se há-de ver.”

01 janeiro 2009

Ano novo, vida velha?

Como cidadão interessado e atento à vida social e politica do país ouvi a Mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Ouvi mas sem grande expectativa, devo dizer, pois já percebi que as ditas comunicações ao país nestas datas festivas (como noutras, de resto) dos responsáveis políticos servem além do mais para corrigir estratégias que só eles sabem e entendem e também para acertar contas entre eles, contas que o cidadão comum desconhece, mas que talvez pague. Se ainda tinha alguma irritação na minha consciência por assim pensar fiquei mais tranquilo, já que não quero pertencer ao grupo dos que passam a vida a mal dizer dos políticos e da politica ainda que a maioria desses viva da má politica que por aqui se vai fazendo. Explico-me: 2009 será um ano que vai trazer muitas dificuldades a muitas pessoas que, por certo, ficarão fortemente condicionadas na manutenção do seu estilo de vida e de consumo, coisa que é tanto mais grave, quer do ponto de vista pessoal, quer social, quanto é verdade que a promessa que há muitas décadas lhes fizeram foi de Ascenção crescente. É caso para dizer que nos prometeram o paraíso e agora anunciam-nos o inferno. Ou, dito de outra forma, e por analogia ao que disse Hannah Arendt sobre a sociedade do trabalho, ou seja, que estamos numa sociedade de trabalhadores sem trabalho, poder-se-ia agora dizer que estamos numa sociedade de consumidores sem consumo ou, mais geral e profundamente, numa sociedade capitalista sem capitalismo. Nestas condições é possível esperar o aumento da conflitualidade social e até da convulsão social que pode ser incontrolável. É possível também que o poder político se sinta atraído, como tantas vezes acontece, por medidas mais ou menos fáceis que só servem para enganar o otário, em vez de tomar decisões que alterem as regras do jogo que nos têm governado nas últimas décadas e mesmo séculos.
Lembro, entretanto, que estas considerações vêm a propósito do discurso de ano novo do senhor Presidente da República. O que disse, então, o Senhor Presidente? Disse que os Portugueses devem esperar dias difíceis, mas que era solidário com eles. Não tenho a certeza se disse que também era solidário com as dificuldades... Disse também que os Portugueses devem ter esperança e que devem pensar que são os melhores e que, por via disso, vão ser capazes de ultrapassar as dificuldades. Disse ainda e sobretudo que sobre as dificuldades que aí vinham já tinha chamado a atenção há muito tempo. Enfim, para que não digam que ele não disse, disse também que esta crise talvez não se resolva no decorrer do ano de 2009, mas que pode durar mais algum tempo e que é sobretudo com os jovens, com os velhos, com as mães, com os pais, com os agricultores e com outros grupos e espécies existentes em Portugal que está severamente preocupado. O que não disse foi que já na mensagem de natal o senhor Primeiro Ministro (sim, porque ele é o primeiro e só depois vem o segundo...) disse mais ou menos o mesmo, descontado o estilo e as palavras que só o senhor Presidente da República terá entendido.
Enfim, o que o senhor Presidente da República não disse nem sequer sugeriu foi uma única ideia para ultrapassar os problemas com que os Portugueses se confrontam já hoje e que se poderão agravar no próximo ano e nos seguintes. E não o fez porque não quis, não sabe ou, então, não lhe dá jeito. Enfim, aos Portugueses resta ter uma participação activa na vida social e política por forma a que as regras do jogo sejam alteradas, até porque 2009 também a esse propósito vai ser cheio de oportunidades.