A palavra que mais ouvimos pronunciar nos últimos meses na boca dos políticos e também nas páginas dos jornais e nos ecrãs das nossas televisões é a palavra crise. Tenha-se presente os discursos dos nossos mais altos representantes da Nação (Presidente da República e Primeiro Ministro) por altura do último Natal e do Primeiro ano novo...? É claro que esta palavra não foi agora inventada, tentando traduzir uma nova realidade antes desconhecida. Ela é antiga e mesmo milenária e expressa contextos e realidades idênticas. O que talvez seja novidade é o seu uso na actualidade e particularmente na situação actual. Na verdade, se etimologicamente ela pode ser traduzida e percebida como oportunidade de mudança de práticas que, num determinado contexto, se revelaram incapazes de mobilizar e satisfazer a vontade colectiva, a palavra crise parece estar hoje a ser utilizada como estratégia de promoção do medo (que, como é sabido, é a mais clássica das técnicas de dominação) quer pelos que repetidamente a pronunciam e proclamam, quer por aqueles que ansiosamente a escutam. Mesmo assim, muitos destes últimos às vezes soltam um desabafo que é deveras interessante e muito significativo: “crise só se for para eles, para os que têm muito dinheiro, eu por mim sempre vivi em crise e não morri. Logo se há-de ver.”
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