O recurso à expressão "miséria" tem sido recorrente nos escritos sobre o comportamento humano. Utilizo-a agora para caracterizar a vida política e particularmente a que se vai fazendo no nosso país. Na verdade, a actividade política em Portugal tem sido, sobretudo nos últimos anos, marcada pela intriga, pelo ajuste de contas entre os protagonistas de jogos e, quem sabe, de comportamentos menos claros e pouco transparentes mutuamente consentidos, que em nada dignificam os seus autores e, mais do que isso, levam o comum dos cidadãos a não acreditar nos políticos nem na política.Não sei se é justamente isso o que pretendem aqueles que fazem este tipo de política, o que seria, no mínimo, absurdo, já que seria a política feita em circuito fechado com um receptor exterior que cada vez fica mais surdo pelo excesso de ruído. Seria bom, digo eu, não apenas para a saúde e vitalidade da Democracia, que a política deixasse de estar centrada nos seus protagonistas, os políticos, e passasse a tratar dos temas que interessam à maioria dos cidadãos, o que nas circunstâncias actuais não é difícil prever quais sejam: crise económica; desemprego; pobreza, incluindo a de natureza económica; etc. Mas, afinal, reparo que a política palaciana, aquela que discute tudo menos os problemas e interesses do país e dos Portugueses, é uma velha tradição na nossa vida colectiva como tão bem o demonstram os trabalhos de vários escritores e pensadores políticos Portugueses, entre os quais Eça de Queiroz - que vale sempre a pena reler - pois infelizmente o que disse da vida política que por aqui se fazia no século XIX mantém-se actual no século XXI. Como se vê, pelo menos no reino da política e na governação que dela resulta e que todos vamos, mais ou menos conformados, aceitando, o mundo não pula e nem sequer avança.
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