23 fevereiro 2009

Onde está a responsabilidade social das empresas

Nos últimos anos muito se tem ouvido falar de responsabilidade social das empresas. Este tema chegou mesmo a ser compilado em mais um livro da Comissão Europeia. Desta vez o livro é verde e é “PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS". Em Portugal o assunto foi rapidamente incorporado e passadas umas semanas da publicação do livro Europeu logo foi criada uma associação designada RSE PORTUGAL, que também rapidamente se tornou membro da CSR Europe. A RSE, constituída em 2005, tem tido grande projecção nacional, além do mais, porque já foi variadas vezes recebida por sua Excelência o Senhor Presidente da República, e talvez também, ou fundamentalmente, porque (de acordo com o que se diz nos seus anúncios promocionais) agrega “algumas personalidades de vulto ligadas ao meio empresarial e académico". Quanto a essas ditas personalidades prefiro não tecer, por ora, qualquer comentário, ainda que não resista a comentar que já se vai tornando moda em Portugal e noutras partes do mundo associar a Universidade ao mundo dos negócios...
Faço parte dos que, desde o surgimento do discurso sobre a responsabilidade social das empresas sempre lhe colocaram várias interrogações, a saber: a) a formação histórico-social actual tem como estrutura fundamental o Estado de Direito, pelo que basta que as empresas cumpram o que está legislado sobre a protecção do meio ambiente, as relações laborais, enfim, basta que sejam consideradas, tal como as outras instituições e cidadãos, sujeitos de direito; b) a figura da empresa surge no capitalismo com o propósito claro e expresso, nunca contrariado por algum economista ,de gerar lucro, sendo certo que neste sistema económico a regra é que para que alguns possam ganhar é necessário que muitos admitam perder e que percam de facto; c) o discurso sobre a responsabilidade social das empresas, altamente patrocinado pela elite política Europeia e também Portuguesa, surge numa época de crise severa do trabalho ou da falta dele, pelo que constitui mais uma fuga para a frente à procura do paraíso perdido, quero dizer, o pleno emprego, numa época em que, por razões várias e muito diversas (e nem sempre pelas mais convencionais ) são cada vez em maior número os inempregáveis.
Os acontecimentos ocorridos nos últimos meses vieram, em larga medida, confirmar a actualidade e a pertinência dessas interrogações. De facto, ainda a crise era apenas anunciada já muitas empresas anunciavam o despedimento de milhares de trabalhadores, enquanto outras proclamavam à opinião pública a intenção de despedir muitos outros milhares. Enfim, em época de crise, real ou virtual, as empresas deixam cair a sua responsabilidade, não social, mas cívica, de promoverem ou, pelo menos, manterem o emprego. Mas, é claro, alguma dessas empresas que, não querendo baixar os seus lucros, não teve qualquer dúvida em despedir centenas de trabalhadores, sempre poderá dizer e demonstrar à exaustão que nessa leva de despedimentos sempre se safou um deficiente ou um ex-toxicodependente porque para esses a empresa tem subsídios do Estado, ficando desta forma comprovada a sua responsabilidade social.

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