31 janeiro 2009

O divórcio e a pobreza

Confesso que foi com um arrepio na espinha que ouvi as declarações de ontem do Senhor Presidente da República. Convidado para o congresso da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade social (CNIS), que decorreu este fim de semana em Fátima, o Presidente de República declarou que existe uma relação de tipo causal entre divórcio e pobreza. Como um arrepio na espinha não se sente todos os dias..., tentei perceber por que tinha eu tido tal sensação. Para além de muitas outras razões que a minha razão há-de descobrir, encontro por agora duas: tendo andado muito calado relativamente ao caso de que todo o país fala, ou seja, o caso Freeport, o Presidente da Republica, mais uma vez, não se quis comprometer com tal mesquinhez até porque isso não lhe diz respeito, e muito menos é assunto que possa ser tratado num sítio daqueles, na cidade de Fátima; pressionado pela comunicação social e numa atitude de oportunismo politico, para não dizer de pura e singela vingança, o Presidente da República preferiu lembrar que vetou uma vez a lei do divórcio, mas que apesar disso essa lei foi aprovada. Daqui infere Sua Excelência que dessa decisão parlamentar resulta mais pobreza. Quem pense que a pobreza resulta das condições económicas e da miséria em que este capitalismo, que durante muitas décadas funcionou em roda livre, nos colocou, desengane-se. Até porque Sua excelência, o Professor Doutor Cavaco Silva, nunca se engana e raramente tem dúvidas (cito de memória o que ele disse há cerca de quinze anos quando era Primeiro Ministro); enfim, neste momento da nossa vida colectiva em que as nuvens se adensam e os aguaceiros já chegaram tive medo da tempestade, tal é a pobreza das ideias e de princípios ético-políticos e, sobretudo, a falta de clareza e de transparência que marca a vida política no nosso país.

1 comentário:

Anónimo disse...

Neste verdadeiro quadro surrealista em que o país se transformou e porque as coisas nem sempre são o que parecem, há que ter as devidas cautelas para, no dizer de Foucault, “fazer aparecer o inteligível sobre um fundo de vacuidade”.
Oscilando entre a arqueologia do arrepio e o epistema futebolístico nacional, diria que o meu amigo AR ou teve um arrepio precoce ou um arrepio ao lado.
Mais que uma mesquinha vingança relativamente ao Primeiro-Ministro, sua Excelência o Presidente da República, acaba de lhe prestar mais um favor. Chamemos-lhe um pequeno pagamento por conta da dívida que mantém para com Sócrates, previsivelmente e inevitavelmente ampliada nas próximas presidenciais.
Precisamente no momento em que todos falam do Freeport, vem o Senhor Presidente, num verdadeiro “fair-divers”, falar da nova lei do divórcio e em jeito de metáfora, ameaçar com esse divorcio institucional, em tempo de crise, tentando mostrar à evidência o quanto zangado está como governo em geral e Sócrates em particular. Nada mais falacioso. O que sua Excelência, o Presidente, acaba de nos demonstrar é que, ao contrário, a pobreza não é causa do divórcio, mas aquilo que em primeira instância o impede. Só a absoluta pobreza de ideias e princípios mantém essa “união de facto”, de interesse, interesses e conveniências mútuas entre as duas principais figuras do Estado.
Por mim, o que me arrepia verdadeiramente é a continuidade dessa relação que, a bem da nação, dura e perdura e a percepção que, contrariando a famigerada separação dos poderes, os ovos continuam a ser postos no mesmo cesto à custa desse divórcio eternamente adiado.
O que mais me angustia é saber que não é possível separar as duas faces da mesma moeda, não fossem eles farinha do mesmo saco e não tivessem a mesma génese: O PSD!

GPL