18 outubro 2008

Organização Internacional do Trabalho - relatório World of Work, 2008

A OIT acaba de lançar o relatório World of Work 2008, que pode ser descarregado aqui.
A comunicação social tem assinalado alguns dos seus dados mais relevantes. Por exemplo, que as desigualdades de rendimentos entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres têm aumentado ao longo das duas últimas décadas na maioria dos países, e que se espera que a actual crise venha a agravar essa situação.
Pela minha parte gostaria de salientar que, também ao longo das últimas duas décadas e em cerca de 3/4 dos países analisados, os rendimentos provenientes do trabalho têm vindo a tornar-se proporcionalmente menores em relação a outras fontes de rendimento. Muito embora a quota-parte de responsabilidade que cabe a cada uma das causas desse fenómeno seja difícil de precisar, entre elas estarão muito provavelmente a transformação do mercado de trabalho e a globalização da economia financeira. Parece também fazer algum sentido relacionar o aumento da desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres com esta perda de importância relativa dos rendimentos do trabalho.
Portugal, neste aspecto específico, encontra-se numa situação peculiar. Por um lado, é um dos países em que esta desigualdade entre ricos e pobres mais tem aumentado. Por outro lado apresenta, entre 1990 e 2006, uma subida anual dos salários claramente superior ao aumento da produtividade. Em teoria, este facto apontaria para um aumento da importância dos rendimentos do trabalho relativamente a outras fontes de rendimento, mas isso, evidentemente, torna mais difícil compreender o forte crescimento das desigualdades entre ricos e pobres no nosso país.
Poderá a explicação para este peculiar fenómeno residir no facto de, em Portugal, a desigualdade de rendimentos entre ricos e pobres ter como causa muito relevante uma fortíssima desigualdade nos rendimentos do trabalho, não se limitando à já expectável desigualdade nos rendimentos do capital? É que se isso for verdade, deverão ser os funcionários e gestores de topo - sim, aqueles que estão sempre a falar de competitividade - a melhorar a sua produtividade ou a reduzir os seus salários para eliminarmos esta discrepância actualmente existente entre níveis salariais e produtividade...

Sem comentários: