Confesso que foi com um arrepio na espinha que ouvi as declarações de ontem do Senhor Presidente da República. Convidado para o congresso da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade social (CNIS), que decorreu este fim de semana em Fátima, o Presidente de República declarou que existe uma relação de tipo causal entre divórcio e pobreza. Como um arrepio na espinha não se sente todos os dias..., tentei perceber por que tinha eu tido tal sensação. Para além de muitas outras razões que a minha razão há-de descobrir, encontro por agora duas: tendo andado muito calado relativamente ao caso de que todo o país fala, ou seja, o caso Freeport, o Presidente da Republica, mais uma vez, não se quis comprometer com tal mesquinhez até porque isso não lhe diz respeito, e muito menos é assunto que possa ser tratado num sítio daqueles, na cidade de Fátima; pressionado pela comunicação social e numa atitude de oportunismo politico, para não dizer de pura e singela vingança, o Presidente da República preferiu lembrar que vetou uma vez a lei do divórcio, mas que apesar disso essa lei foi aprovada. Daqui infere Sua Excelência que dessa decisão parlamentar resulta mais pobreza. Quem pense que a pobreza resulta das condições económicas e da miséria em que este capitalismo, que durante muitas décadas funcionou em roda livre, nos colocou, desengane-se. Até porque Sua excelência, o Professor Doutor Cavaco Silva, nunca se engana e raramente tem dúvidas (cito de memória o que ele disse há cerca de quinze anos quando era Primeiro Ministro); enfim, neste momento da nossa vida colectiva em que as nuvens se adensam e os aguaceiros já chegaram tive medo da tempestade, tal é a pobreza das ideias e de princípios ético-políticos e, sobretudo, a falta de clareza e de transparência que marca a vida política no nosso país.
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Há 8 anos